D. Gualdim Pais (1118/20-1196)
Escultura da autoria de Macário Dinis, 1940. Tomar, Praça da República (Fonte: Rede de Castelos e Muralhas do Mondego)
O que se sabe acerca da vida e obra do mestre Gualdim Pais encontra-se essencialmente em fontes documentais da chancelaria régia ou da própria Milícia, assim como nas lápides enaltecedoras dos seus feitos, embutidas nas paredes de castelos e de muralhas, como é o caso das lápides de 1171 comemorativas da fundação dos castelos de Pombal e de Almourol, que demonstram a importância dada pela Ordem do Templo a atos fundacionais, procurando (co) memorar através dessas inscrições monumentais. Ambas confirmam que o Mestre dos Templários era natural da zona de Braga “BRACARA ORIUNDUS” e que esteve durante cinco anos na Palestina, combatendo as forças muçulmanas ao lado do Grão-mestre da Ordem do Templo. De regresso a Portugal foi nomeado Mestre da Ordem do Templo, cargo que ocupou entre 1157 e 1195, assumindo um lugar de destaque na história desta Ordem, em Portugal.
Oriundo de uma família integrada socialmente na pequena nobreza minhota, originária de Priscos, nas proximidades de Braga, segundo filho de D. Paio de Priscos e de D.ª Gontrode Soares, irmão de D. Gomes Pais de Priscos, D.ª Estevaínha Pais e de D.ª Sancha Pais, D. Gualdim Pais terá nascido entre 1118 e 1120.
De acordo com a tradição, foi armado cavaleiro por D. Afonso Henriques, no campo da batalha de Ourique, em 1139, combatendo ao seu lado contra os muçulmanos. Depois, tornou-se cruzado, partindo para o Próximo Oriente onde permaneceu durante cinco anos, combatendo no âmbito da IIª Cruzada, pregada por S. Bernardo em 1146. Lutou no Egito, Síria e Antioquia e assistiu na tomada de Ascalona, em 1153. No seu regresso, em 1156, foi nomeado Mestre da Ordem do Templo em Portugal, cargo que ocupou ao longo de 40 anos.
O papel de D. Gualdim Pais revelou-se de grande importância, inaugurando uma fase de desenvolvimento da Ordem em Portugal. Em 1156, Gualdim Pais mandou construir o Castelo de Pombal, que assumiu um papel de vital importância na consolidação das posições alcançadas, integrando a rede de fortalezas da linha defensiva do Mondego.
Em 1159, chegou a acordo com o Bispo de Lisboa, resolvendo a contenda que se arrastava desde 1147, após a conquista de Santarém. Em reconhecimento, D. Afonso Henriques entregou à Ordem o território do Castelo de Ceras, e os Templários cederam os direitos das igrejas de Santarém à Diocese de Lisboa.
Responsável pela introdução de inovações técnicas na arquitetura militar portuguesa do século XII, influências trazidas da sua experiência na Terra Santa. Implementou a torre de menagem, o alambor e a planta poligonal irregular, elementos que podem ser hoje observamos nos castelos de Pombal e Tomar, ambos erguidos no seu mando, respetivamente nos anos 1156 e 1160. Outros castelos, como Almourol, Zêzere, Idanha e Monsanto ficaram igualmente a dever-se à iniciativa do mestre.
Às obras arquitetónicas de defesa, D. Gualdim Pais aliou a gestão dos territórios que foram entregues à Ordem, concedendo-lhes cartas de foral. Em 1159 concede forais aos concelhos de Redinha e Ferreira do Zêzere, em 1161 a Tomar e em 1174 à vila de Pombal.
Depois de ter regressado a Portugal e ter sido nomeado Mestre dos Templários, a Ordem do Templo atravessou o seu momento áureo. Detinha amplos e consolidados domínios, todos localizados ao longo das fronteiras, controlava treze castelos e desempenhava um papel fundamental na defesa e repovoamento do reino.
Em 1190, aquando da investida almóada, D. Gualdim Pais defendeu, vitoriosamente, o castelo de Tomar contra um numeroso exército liderado por Abu Yaqub al-Mansur, rei de Marrocos. A inscrição que se conserva até hoje na escadaria de acesso ao Convento de Cristo, em Tomar, recorda o episódio histórico do cerco almóada ao Castelo de Tomar e o esforço de combate dos cavaleiros templários.
Faleceu a 13 de Outubro de 1195, como refere a lápide funerária de “Frater Gualdinus magister militum Templi Portugalie”, embutida na parede da capela lateral Sul da Igreja de Santa Maria dos Olivais, em Tomar, vila que promoveu a sede da Ordem. Com ele encerrava-se a fase de maior pujança da Ordem do Templo, sucedendo-se D. Lopo Fernandes.
A visitar:
Castelos e Muralhas do Mondego
Referências Bibliográficas
BARROCA, Mário Jorge – “A Ordem do Templo e a Arquitectura Militar Portuguesa do Século XII”, in Separata de Portugalia, nova série, vol. XVII-XVIII, 1996-1997.
BARROCA, Mário Jorge –Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian/Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministério da Ciência e da Tecnologia, 4 volumes, 2000.
EUSÉBIO, Joaquim – Pombal 8 Séculos de História. Ed. rev. e aumentada.Pombal: Câmara Municipal, 2007.
GOMES, Saul António – “D. Gualdim Pais (c. 1118/20-1195)”, in População e Sociedade. Porto: CEPESE, vol.23, p. 11-23, 2015.
PEDROSA, Nelson – “O Castelo de Pombal: da ruína à salvaguarda da sua memória”, in Cadernos de Estudos Leirienses. Leiria: Textiverso, n.º 2, p. 9-24, 2014.