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Maria Fogaça

Versão em Português

D. Maria Fogaça

 

Maria Fogaça é uma figura da tradição popular preservada pelo povo pombalense, cujo nome se associa à narrativa fantasiosa da origem das festas do Bodo. Segundo a tradição, vivia numa torre situada junto à antiga Travessa da Torre, hoje conhecida como a “Travessa do Cardal”, que desemboca no Rossio do Cardal. A mesma torre que no século XVII fora mandada demolir por D. Luís de Vasconcelos e Sousa, 3º Conde Castelo Melhor, para aproveitamento da sua pedra na construção do Convento de Santo António.

 

Pessoa muito devota, manda construir a antiga Ermida de Nossa Senhora de Jerusalém no Rossio do Cardal, a 20 passos da sua torre. De bastante grandeza, nela foi colocada a imagem de Nossa Senhora de Jerusalém, a quem os pombalenses detinham grande veneração e que depois, lhe atribuíram o nome de Cardal, pela sua localização numa zona de cardos. A capela-mor era de abóbada, cruzada ao antigo retábulo, muito bem dourado. Debaixo do altar-mor estava o Senhor descido da cruz e, em capela lateral encontrava-se a imagem da Senhora das Neves, mandada edificar pelo Dr. Matheus das Neves Lamprea, cavaleiro da Ordem de Cristo.

 

Ligada a esta ermida e a D. Maria Fogaça está a lenda das seculares festas do Bodo. Segundo reza a tradição, uma praga de gafanhotos e lagartas assolou os campos e as colheitas da vila de Pombal, causando grandes prejuízos aos pombalenses. Esta vexação obrigou o povo a ir à Igreja de S. Pedro e invocar a proteção a Nossa Senhora. Aí iniciaram uma procissão de preces que acabou na Capela de Nossa Senhora de Jerusalém. Realizou-se missa cantada, prometendo-se uma festa, se esta os livrasse de tão grande calamidade. Acudindo às preces dos pombalenses, o milagre aconteceu e a praga desapareceu. Celebrou-se nova missa solene em ação de graças pelo milagre reconhecido.

 

No ano seguinte, D. Maria Fogaça decide suportar toda a despesa da grandiosa festa religiosa, mandando fazer dois grandes bolos, oferecidos ao pároco da vila. Por serem demasiado grandes, um ficou mal colocado no forno. Um criado da casa, invocando o nome da Nossa Sr.ª de Jerusalém, entrou rapidamente no forno para conserta-los, saindo ileso, o que foi considerado como um ato miraculoso. A partir de então, a festa passou a realiza-se com devoção ao bolo, ao qual a população carinhosamente deu o nome de “fogaça”.

“Fogaça” (Fonte: PEDROSA, 2020)

Maria Fogaça terá continuado a realizar as festividades nos anos seguintes. Porém, antes de falecer, e como não tinha descendentes, legou à Câmara todos os seus bens com a obrigação de continuar a realização das festas.

 

Inicialmente, as festas decorriam nos finais de junho. Porém, visto estar mais de acordo com o calendário das colheitas, passaram a realizar-se no último fim-de-semana de julho. As diligências para a realização das cerimónias iniciavam-se nas quatro semanas anteriores. Assim, no último dia das festas, a Câmara nomeava quatro mordomos, de casais diferentes, encarregados de realizar a cerimónia no ano seguinte.

 

As festas foram permanecendo e mantiveram o ritual de se cozer o bolo no forno construído no Largo do Cardal para o efeito que, segundo a tradição, diz ter sido erigido em terreno onde estava a torre de D. Maria Fogaça. Pouco depois da implantação da República, foi demolido o forno e alguns anos depois, o bispo de Coimbra, proíbe a entrada do homem no forno nas freguesias de Santiago de Litém e de Abiul que mantinham semelhante prática.

 

Se a tradição da entrada do homem no forno foi proibida, se a festa tem lugar em novos espaços atualmente, o mesmo não acontece com a cerimónia religiosa que, no último domingo de julho, acolhe uma multidão de fiéis em veneração à passagem de Nossa Senhora do Cardal.

Imagem de Nossa Senhora do Cardal (Fonte: PEDROSA, 2020)

Referências Bibliográficas:

EUSÉBIO, Joaquim – Pombal 8 Séculos de História. Ed. rev. e aumentada.Pombal: Câmara Municipal, 2007.

PEDROSA, Nelson – Para a História de Pombal no Século XVIII. Pombal: Rotary Club de Pombal, 2016.

PEDROSA, Nelson – Lenda das Festas do Bodo. Acedido em 20 de agosto de 2020: https://www.festasdobodo.com/lenda-festas-do-bodo/.

www.cm-pombal.pt/viver-2/festasdobodo/

English version

Maria Fogaça

Maria Fogaça is a character of the popular tradition preserved by the inhabitants of Pombal, whose name is associated with the fanciful narrative of the origin of the Bodo festivities. According to tradition, she lived in a tower located next to the former “Travessa da Torre” (“The Tower side street”), now known as “Travessa do Cardal”, leading to Cardal Square. That same tower was demolished in the 17th century by Luís de Vasconcelos e Sousa, 3rd Count of Castelo Melhor, in order to use its stone in the construction of the Convent of Santo António.

 

This very devout person ordered the construction of the old Chapel of Our Lady of Jerusalem in Cardal Square, 20 steps from her tower. Of great magnitude, inside was the statue of Our Lady of Jerusalem to whom the inhabitants held great veneration and, later, attributed the name of Our Lady of Cardal, for its location in an area of thistles (“Cardos”). The chancel was domed, crossed to the old altarpiece, and very well gilded. Under the high altar was the Lord descended from the Cross and, in a side chapel, the statue of Our Lady of Neves, commissioned by Matheus das Neves Lamprea, knight of the Order of Christ.

 

The legend of the secular Bodo festivities is linked to this chapel and to Maria Fogaça. According to tradition, a plague of grasshoppers and caterpillars invaded the fields and harvests of the village of Pombal, causing great damage to the inhabitants. This vexation forced the people to go to St. Peter’s Church and invoke protection to Our Lady. There, they began a procession of prayers that ended in the Chapel of Our Lady of Jerusalem. A sung Mass was held, promising a feast if Our Lady would delivered them from such a great calamity. Responding to the prayers of the inhabitants, the miracle happened and the plague disappeared. A new solemn Mass was celebrated in gratitude for the miracle.

 

The following year, Maria Fogaça decided to bear the expense of the religious festivity, having two great cakes made, offered to the parish priest. Due to their size, one got badly put in the oven. A servant of the house, invoking the name of Our Lady of Jerusalem, quickly entered the oven to fix them, leaving unharmed, which was considered a miraculous act. From then on, the festivity began to take place with devotion to the cake, to which the population affectionately gave the name of “fogaça”.

“Fogaça” (Source: PEDROSA, 2020)

Maria Fogaça continued to hold the festivities in the following years. Nevertheless, before she died, as she had no descendants, she donated to the municipality all her assets with the obligation to continue the festivities.

 

Initially, the festivities took place at the end of June. However, since it was more in accordance with the harvest schedule, they started to occur on the last weekend of July. The preparation of the ceremonies started in the previous four weeks.  For this reason, on the last day of the festivities, the city council appointed four butlers, of different couples, in charge of the following ceremony.

 

The festivities remained with the ritual of baking the cake in the oven which, according to tradition, was built in Cardal Square for the purpose and at the exact spot where the tower of Maria Fogaça was situated. Shortly after the establishment of the Republic, the oven was demolished and a few years later, the bishop of Coimbra forbid the man’s entry in the oven in the parishes of Santiago de Litém and Abiul which had maintained such practice.

 

Despite the prohibition of the tradition man’s entry in the oven, despite the festivities taking place in new premises nowadays, the religious ceremony continues to welcome, on the last Sunday of July, a faithful crowd venerating Our Lady of Cardal during the procession.

Image of Nossa Senhora do Cardal (Source: PEDROSA, 2020)

Bibliographical references:

EUSÉBIO, Joaquim – Pombal 8 Séculos de História. Ed. rev. e aumentada.Pombal: Câmara Municipal, 2007.

PEDROSA, Nelson – Para a História de Pombal no Século XVIII. Pombal: Rotary Club de Pombal, 2016.

PEDROSA, Nelson – Lenda das Festas do Bodo. Acedido em 20 de agosto de 2020: https://www.festasdobodo.com/lenda-festas-do-bodo/.

Festas do Bodo

Version Française

Maria Fogaça

Maria Fogaça est un personnage de la tradition populaire préservée par les habitants de Pombal, dont le nom est associé au récit fantaisiste de l’origine des Fêtes du Bodo. Selon la tradition, elle vivait dans une tour située près de l’ancienne Travessa da Torre (« Ruelle de la Tour »), de nos jours connue sous le nom de « Travessa do Cardal », en direction du Rossio do Cardal (Place du Cardal). Cette même tour qui, au XVIIe siècle, fut démolie sous ordre de Luís de Vasconcelos e Sousa, 3e Comte de Castelo Melhor, afin d’utiliser sa pierre dans la construction du Couvent de Santo António.

 

Maria Fogaça était une personne très pieuse qui fit construire l’ancienne chapelle de Notre-Dame de Jérusalem sur la Place du Cardal, à 20 pas de sa tour. De grande ampleur, on y plaça la statue de Notre-Dame de Jérusalem, envers qui les habitants détenaient une grande vénération et à qui ils attribuèrent ensuite le nom de Cardal, dû à son emplacement dans une zone de chardons (« Cardos » en portugais). Le chœur avait une voûte, croisée à l’ancien retable, très bien doré. Sous le maître-autel se trouvait le Seigneur descendu de la Croix et dans une chapelle latérale se trouvait la statue de Notre-Dame das Neves, érigée sous ordre de Matheus das Neves Lamprea, chevalier de l’Ordre du Christ.

 

La légende des traditionnelles fêtes du Bodo est profondément liée à cette chapelle et à Maria Fogaça. Selon la tradition, un fléau de sauterelles et de chenilles frappa les champs et les récoltes du bourg de Pombal, causant de grands dommages aux habitants. Cette vexation força le peuple à se rendre à l’église de São Pedro et à invoquer la protection de Notre-Dame. Là, ils initièrent une procession de prières qui termina à la chapelle de Notre-Dame de Jérusalem. Une messe chantée y eut lieu et les pèlerins promirent une fête si la Sainte les délivrait d’une telle calamité. Répondant aux prières des habitants de Pombal, le miracle fut accompli et le fléau disparut. Une nouvelle messe solennelle fut célébrée en action de grâces.

 

L’année suivante, Maria Fogaça décida de supporter toutes les dépenses de la grande fête religieuse, en ordonnant la confection de deux grands gâteaux, offerts au curé du bourg. Comme ils étaient trop grands, l’un d’eux fut mal positionné dans le four. Un serviteur de la maison, invoquant le nom de Notre-Dame de Jérusalem, entra rapidement dans le four pour les remettre en place et sortit indemne, ce qui fut considéré comme un nouveau miracle. Dès lors, la fête commença à se faire avec une grande dévotion au gâteau, auquel la population affectueusement donna le nom de « fogaça ».

“Fogaça” ((Source: PEDROSA, 2020)

Maria Fogaça continua à organiser les festivités les années suivantes. Cependant, avant de mourir, et n’ayant pas de descendants, elle légua tous ses biens à la Mairie, avec l’obligation de continuer à réaliser les fêtes.

 

Initialement, les festivités avaient lieu à la fin du mois de juin. Toutefois, afin de s’adapter au calendrier des récoltes, la fête commença à avoir lieu le dernier week-end de Juillet. La préparation des cérémonies initiaient au cours des quatre semaines précédentes. C’est pourquoi, le dernier jour des festivités, la mairie nommait alors quatre majordomes, de couples différents, qui étaient en charge de la cérémonie l’année suivante.

 

Les fêtes continuèrent et maintinrent le rituel de cuire le gâteau dans le four collectif construit sur la Place du Cardal à cet effet, à l’endroit même où se situait la tour de Maria Fogaça. Peu de temps après l’implantation de la République, le four fut démoli et, quelques années plus tard, l’évêque de Coimbra interdit l’entrée de l’homme dans le four, également dans les paroisses de Santiago de Litém et Abiul qui maintenaient la même pratique.

 

Malgré l’interdiction de la tradition de l’entrée dans le four, malgré le fait que la fête se déroule actuellement en des lieux différents, la cérémonie religieuse continue quant à elle d’accueillir, chaque année, le dernier dimanche de juillet, une foule de fidèles vénérant Notre-Dame du Cardal lors de la procession.

Image de Nossa Senhora do Cardal ((Source: PEDROSA, 2020)

Sources bibliographiques :

EUSÉBIO, Joaquim – Pombal 8 Séculos de História. Ed. rev. e aumentada.Pombal: Câmara Municipal, 2007.

PEDROSA, Nelson – Para a História de Pombal no Século XVIII. Pombal: Rotary Club de Pombal, 2016.

PEDROSA, Nelson – Lenda das Festas do Bodo. Acedido em 20 de agosto de 2020: https://www.festasdobodo.com/lenda-festas-do-bodo/.

Festas do Bodo